MIAMI VICE - 6,5 estrelas (6,5 - 10)


Muitos de vós não serão da minha geração e difícil será verem um filme deste calibre e interpretarem-no correctamente. Assim sendo opto por começar pelo ano de 1984, bons e velhos tempos em que assistia à série televisiva de acção para adultos mais gloriosa de todas as que vieram a surgir: Miami Vice ou se preferirem Acção em Miami (a genuína de Don Johnson enquanto brilhante actor e realizador e, Michael Mann na produção).
Recordo que assistia a esta série do clamoroso Sonny Crocket, sentado no sofá castanho escuro, na sala dos meus avós e tudo tinha mais ilusão.
Quando me convidaram para assistir a este filme, não pude recusar, primeiro porque ia em trabalho (humm bilhetes pagos), segundo porque ansiava voltar a sentir pequenos orgasmos enquanto voltasse a ver uma reprodução da melhor série televisiva jamais rodada. Queria voltar a imaginar-me num potente Ferrari, num fato branco, óculos escuros, rodeado de belas mulheres recheadas de silicone e beber martinis brancos em Iates de luxo… e claro, ter um amigo em que pudesse confiar e uma arma debaixo do braço!
Apesar do que imaginava, fiz um esforço antes do filme, evitando criar expectativas. Para ser uma experiência tipo “primeiro beijo”, ou seja, algo imprevisível e bom. Mas foi inevitável, passei longos minutos a imaginar como seria o filme… e deleitei-me com esses pensamentos.
Julguei que tudo estava perdido! Que por melhor que fosse, já não iria sentir prazer na sua visualização.
E assim, neste decrépito mal-estar, penetrei no fosso escuro, sentei-me e aguardei pela sessão… No princípio gostei, no meio amei e no final queria repetir tudo de novo! Sem sequer fumar o cigarro (apesar de ser não fumador de cigarros, claro).
Senti-me uma prostituta, “puta da vida” que se tinha rendido ao seu cliente mais hostil. Teria eu gostado mais deste filme, onde o playboy Colin Farrell interpretando Sonny e o “negão” Jamie Foxx interpretando Ricardo Tubbs contracenam numa película que apenas tem acção e da boa… - seria eu um vendido, rendido às evidencias de uma dupla de bondage!?
Julgo que não! O filme é mesmo bom, tão bom como a mítica série e estes miúdos estão tão bons (e não digo melhores) que os da old school.
A história poderia ser mais rebuscada, mas compreende-se perfeitamente o facto, dado que Don Johnson seguiu a sua linhagem e mesmo a música seguiu quase semelhante. O único ponto que tenho a apontar é a simplicidade dos acontecimentos, típicos neste tipo de enredo… tudo se passa em redor de tráfico de droga, armas, cop killers e fenómenos afins. Mas asseguro que vale a pena! Apenas não percebi porque Sonny não usa o fato branco!?...
THE BLACK DHALIA - A DALIA NEGRA - 8 estrelas (8-10)

Brian de Palma presenteia-nos com uma obra de época, baseada em factos verídicos que chocaram a América em finais dos anos 40. A história passa-se em Hollywood, onde o corpo, ou o que resta dele, de uma aspirante a actriz é encontrado. Mr. Fire (Aaron Eckhart) e Mr. Ice (Josh Hartnett) são os detectives encarregues do caso da Dália Negra (Mia Kirshner) e que no decorrer da acção se tornam obcecados, cada um à sua maneira, por ela, vivendo ao mesmo tempo uma curiosa relação platónica a três com Kay (Scarlet Johansson). Pontuado por momentos de violência extrema mas nada gratuita, o filme prende-nos à cadeira devido à profusão de elementos, situações e relações que se entrecruzam continuamente até ao final, no entanto para quem como eu ouviu falar do filme e da história inerente que aponta para o facto de o caso na realidade nunca ter sido "resolvido", soa a "final feliz" para contentamento das massas e desilusão pessoal. Outro ponto que me pareceu menos bem engendrado no argumento é a existência de algumas personagens aparentemente de importância vital para o enredo mas que foram pouco exploradas e às duas por três quase não aparecem no ecrân, forçando, a linha de raciocínio da história. De notar a extraordinária qualidade de cenários, ambiente, fotografia e a actuação de Aaron Eckhart, que nas suas obcessões toca a linha ténue da loucura, Mia Kirshner, que transparece uma inocência ternurenta e ao mesmo tempo uma "lábia" interesseira, estereótipo das "starlets" americanas, e a sempre (ou quase) fantástica Hilary Swank, no papel da Femme Fatale rica e mimada e embora a semelhança física entre a sua personagem e a de Dália nos seja consecutivamente impingida, por motivos de enredo, na realidade não convence. Quanto às actuações de Josh Hartnett e Scarlet Johansson não são más, mas em comparação com outras actuações ficaram aquém do esperado.
No conjunto geral o filme é muito bom e vale mesmo a pena dar um salto até à sala mais próxima assim que possível, para vislumbrar o meio Hollywoodesco dos anos 40/50 pela mão de Brian de Palma.
Gostaria ainda de fazer uma breve comentário ao evento Optimus Openair, onde assisti à antestreia deste e de outros filmes. Nota 10 em termos organizativos, simpatia e prestatividade, realmente é um evento muito bem estruturado e ainda levamos alguns souvenirs para casa, cortesia dos patrocinadores, que convenhamos até sabem bem. Nota -10 a destacar no dia do filme a Dália Negra, que antes da abertura de portas já várias filas de lugares (os melhores!) estavam reservadas, para quem? Só posso presumir que fossem para imprensa e para alguns “Vip’s” avistados no local. O mais lamentável não é o facto de estarem reservados antecipadamente mas sim o “atirar areia para os olhos” de quem pagou bilhete e tem tanto direito como os outros de se sentar nesses lugares, aquando da pergunta fatídica a uma menina que dá apoio às bancadas: - Desculpe mas estes lugares já estão reservados????????
- Sim já os devem ter reservado entretanto!
- Mas as portas abriram agora, como é possível?
- Pois não sei!
Resta explicar que eram 20:05, fui das primeiras pessoas a entrar e as portas abriram às 20:00, eram pelo menos 4 filas de 30 lugares cada uma, (se não mais) que estavam reservadas e na bancada havia meia dúzia de pessoas... façam as contas, eu não chumbei a matemática mas se calhar os Sres. da Optimus sim...
OLD BOY - 7 estrelas (7-10)

Em boa verdade foi dos filmes mais conversos que estes olhos sorveram. Recheado de eclipses ora de acção, ora de profunda reflexão nipónica. O espectador é confrontado desde parcos minutos, com temas como a honra dos senhores de olhos em bico e a arte da luta titânica entre pessoas aparentemente comuns, mas que graças ao orgulho ferido se transformam em mestres de guerra.
A grande maioria do público fica indiferente a este tipo de cinema. Por seu lado, os pseudo (qualquer coisa) críticos de cinema dizem sem justificar que a rodagem é soberba. - Ficamos em que ponto?
O certo é que o cinema Sul Coreano está de parabéns, Chan-wook Park o realizador desta longa-metragem, apenas tem um breve defeito, alonga-se demasiado. Não obstante, saliento que estamos diante uma obra-prima genial de Park, que prende o espectador até ao fim, e a realidade é que poucos filmes conseguem fazer isso.
Em curtas palavras trata-se de um filme doentio, violento e em alguns troços arrepiante.
Dae-su é um pai de família. Por motivos alheios, um dia surge encarcerado, onde a única forma de assistir ao que se passa no mundo é uma diminuta televisão. Este personagem, interpretado por Min-sik Choi, descobre entretanto que a sua mulher foi assassinada e, 15 anos mais tarde quando é finalmente libertado, procura respostas pragmáticas para as suas mais profundas questões.
MILLION DOLLAR BABY - 8 estrelas (8-10)
Na minha perspectiva o primeiro filme contemporâneo made in USA que se enquadra na tendência Europeia de cultura cinematográfica.
Simples, genial e imprevisível. Um filme que dá prazer de ver, só por ver, de ouvir só por ouvir e no final a conjugação de elementos faz-nos chorar. Apenas e tão-somente porque sim, ou talvez porque Clint Eastwood no seu auge de maturidade, tenha sido o pai desta película.
Frankie Dunn (Clint) é dos mais antigos treinadores de pugilistas e, durante praticamente toda a sua vida dedicou-se ao ring. Dunn é um homem agreste, de áspero relacionamento, devido em parte, a problemas com a sua filha que o atormentam. Busca equilíbrio nos conselhos de Scrap (Morgan Freeman), um ex-boxeur que mantém o ginásio.
Num mundo masculinizado, surge Maggie Fitzgeral (Swank), uma jovem determinada a concretizar o sonho de ser pugilista, mas que necessita de um treinador e escolhe um dos melhores, Frankie.
A saga de combates e vitórias, tem um culminar derradeiro, onde o relacionamento de atleta e treinador vão mais além, assumindo uma cumplicidade apenas comparável à de pai e filha. Um pai que terá de fazer o maior dos sacrifícios, para manter o sonho vivo da maior lutadora de sempre “MoChepa”!
GARDEN STATE - 6 estrelas (6-10)

Andrew Largeman (Zach Braff) foi divagando pela vida perdido em emoções surreais até que a trágica morte da sua progenitora o impulsionou a terminar a medicação potentíssima de comprimidos de lítio.
“Large”, como é conhecido, representa um actor mediano de televisão na grande cidade de LA. Por contingências de uma vida atribulada e em muitos aspectos alienada, não vai à sua terra natal há nove anos e quando regressa conhece Sam (Natalie Portman)… - Uma princesa encantada que representa uma porta para um novo universo de sentidos.
Juntos, partirão em busca de tesouros sensoriais jamais explorados. Um filme que vale a pena ver e sobretudo, saborear!
Nota: uma cadente banda sonora!
OS EDUKADORES - 7 estrelas (7-10)

- Anarquismo?! – Anti Capitalismo?! – Revolução Politica?!
A juventude é por excelência o palco dos ensaios anti-sistema, quem nunca pensou em derrubar o sistema, aniquilando regras que proporcionam o melhor a uns e o pior a muitos.
O realizador Hans Weingartner, trouxe ao de cima o que de melhor se produz na Europa de norte, o tema não poderia ser mais interessante, dado o panorama hiper-disciplinado que apresenta a Alemanha.
Este não é mais que o filme que expõe a cru a tentativa de reeducação social que um grupo de amigos sugere a uma sociedade demasiado sistematizada, onde não existe espaço para a criatividade de quem deseja equilibrar tendências.
Jan, Peter e Jule vivem de forma insubmissa a sua mocidade e acreditam que unidos poderão mudar, ainda que pouco, um mundo em que não acreditam. Jan e Peter tornam-se "The Edukators," e de uma forma não-violenta, passam a mensagem aos capitalistas que os seus dias de riqueza estão contados. Porém, o filme vai mais além, quando Jule, se envolve com ambos amigos.
No término resta a sensação de que a mensagem foi passada, mas a impotência de mudar seja o que for mantém-se. Porque afinal de contas, somos de barro e já nos moldaram…
CANDY - 7 estrelas (7-10)
O cinema australiano não poderia estar melhor lançado, o filme do realizador Neil Armfield supera as expectativas de quem espera um bom filme destes 110 minutos de fita. O “bom” não chega para o qualificar, são imensos os sentimentos que circunscrevem esta bela história de amor entre dois junkeys que encontram como barreira o drama da heroína, quiçá o único fenómeno tão ou mais forte que o amor!
Candy (Abbie Cornish) e Dan (Heath Ledger) são dois jovens artistas, que nutrem um amor tremendo numa relação matrimonial afectada pelas contingências que a toxicodependência gera.
Vivem num mundo que os conspurca e obriga aos métodos mais violentos para obterem a sua dose diária, o seu conforto apenas é encontrado quando se abraçam. Candy é uma jovem belíssima, que se sujeita à violação espontânea e Dan, apesar da sua capacidade de compreensão limita-se a ver a sua amada a entrar em ruptura.
Um filme que relata de forma natural o sub-mundo mais cruel que a droga proporciona.
- Belo, trágico e inocente filme, carregado de sentimentos ásperos e suaves…no final, apenas desejei que não existissem “seringas venenosas”, apenas o doce amor que Candy e Dan bebiam.
MATCH POINT - 8 estrelas (8/10)

Após este tremendo filme, onde a moral é tópica de debate. Mantém-se a eterna questão: “serão os filmes de Woody Allen e passo a redundância, sem Woody, portadores de mais pujança cénica que aqueles em que ele (Allen) entra?...”
Existem posições diversas, controversas até… - Sou da opinião que o estimado criador Allen é soberbo e neste filme foi mais além. Concebendo um espaço cénico que supera a própria realidade, tal a vivacidade que o mesmo almejou nas mentes de quem a esta obra prima assistiu. Alienado de um papel de actor, mas superando-se a si próprio no de realizador!
Foi desnecessário e até mesmo preferível que Woody não entrasse no filme que em nada se coadunava com a sua personagem, não faltasse referir que o elenco é composto pelas mais belas criaturas da actualidade em Hollywood.
Surpreendentemente, o aclamado realizador conseguiu desvincular a sua impressão digital de um filme que só nos momentos finais revela alguns detalhes típicos do pequeno titã. Algo que espanta os mais eruditos na área. Cálculo que poucos teriam a sensibilidade de reconhecer que estávamos perante uma obra sua.
Belíssima é em simultâneo a representação de Jonathan Rhys-Meyers, a personagem principal desta longa metragem que envolve temas pesados em redor de uma questão: a Sorte!
Fazer algo bem, tal como jogar ténis, amar, trair, ou até mesmo matar… - envolve alguma dose de sorte.Uma película com uma forte componente de seriedade e tensão. Um filme bestial e que recomendo a todos aqueles que pensarem em cometer uma facadinha na relação.